Woodburn: Público pequeno, grande encantamento

Relembrando alguns dos meus shows favoritos de todos os tempos neste espaço na semana passada, cometi o erro instintivo de me concentrar em grandes locais - estádios de beisebol, arenas de basquete, boliche ao ar livre - e assim me lembrei de The Who, Paul McCartney, Fleetwood Mac, e James Taylor enquanto sofria de amnésia temporária devido a dois shows musicais inesquecíveis em pequenos ambientes.

Pequeno é na verdade um exagero considerável. Minha filha e eu vimos a premiada cantora Amber Rubarth se apresentar em um “concerto caseiro” particular em Seattle, em uma sala de estar suburbana, na frente de 24 participantes ocupando um sofá, um sofá de dois lugares, uma variedade de cadeiras de sala de jantar e de cozinha, e algumas escadas de dois níveis.

Sem a necessidade de microfone e amplificador, a voz de Amber era duas vezes mais agradável do que nas gravações e três vezes mais do que em um grande local. Antes das músicas, ela compartilhou histórias pessoais por trás das letras; depois das músicas, ela perguntou ao público sobre si mesmos. Não foi um concerto, mas sim uma festa íntima.

Ainda mais íntima foi uma noite de música que desfrutei com meu filho na cidade de Nova York, especificamente no Harlem, mais precisamente no “Bill's Place”, um antigo bar clandestino das décadas de 1920 e 1930 que apresenta jazz ao vivo novamente desde seu renascimento, quase duas décadas atrás.

“Bill's Place” está fora dos roteiros mais conhecidos, a uma boa caminhada da estação de metrô mais próxima, eventualmente descendo um quarteirão estreito na West 133rd Street – há muito tempo conhecida como “Swing Street” porque estava balançando e tocando jazz em ambos os lados, mas agora está tão quieto que você pode ouvir o canto dos pássaros.

O endereço número 148 é um apartamento de arenito, estreito como uma espingarda, com uma entrada escalonada guardada por uma cerca preta de ferro forjado na altura dos ombros. Apenas um modesto toldo vermelho com “Bill's Place” em pequenas letras brancas permite que você saiba que chegou.

Uma inspeção mais detalhada revela mais dois sinais reveladores: uma placa na fachada de tijolos, logo à esquerda da porta preta da frente, diz “Harlem Swing Street / Cantora de jazz / Billie Holiday / Descoberta aqui em 1933 / Bill's Place Speakeasy” e acima dela está uma foto emoldurada em preto e branco do lendário cantor.

Naquela época, durante os anos da Lei Seca, o gin de banheira era servido aqui em xícaras de café, para que, quando ocorressem batidas policiais, as xícaras servissem como iscas. Ironicamente, hoje em dia a antiga boate não serve bebidas alcoólicas – embora os clientes possam trazer suas próprias bebidas alcoólicas.

Durante minhas noites e dias como colunista esportivo, sentei-me na quadra nos jogos do Lakers e vi Pete Sampras na primeira fila; sentou-se a meio metro atrás da faixa traseira fora de campo da end zone em Candlestick Park para um jogo de playoff do 49ers-Rams e caminhou dentro das cordas enquanto seguia Jack Nicklaus e Tiger Woods; e assim por diante; mas nunca estive tão perto da ação quanto no Bill's Place.

Meu filho e eu sentamos na primeira fila, que também era a última, porque a sala da cápsula do tempo era tão estreita que havia apenas uma fileira de assentos – onze cadeiras de vime e bancos de madeira incompatíveis, todos encostados na parede oposta ao palco. , os assentos estavam tão próximos uns dos outros que os cotovelos dos clientes se esfregavam e suas traseiras batiam. Além disso, havia espaço em pé apenas em cada lado do palco para uma dúzia de pessoas.

Estávamos tão perto do palco, que por sinal tinha apenas sete centímetros de altura, que se eu, com 1,80 metro, esticasse as pernas, meus calcanhares descansariam nele, embora correndo o risco de tropeçar no saxofonista estrela - e homônimo do local - Bill Saxton, caso ele dê dois passos à frente.

A ser concluído na próxima semana…

Woody Woodburn escreve uma coluna semanal para The Star e pode ser contatado em [email protected]. Seus livros estão disponíveis em www.WoodyWoodburn.com.